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27/11/2020

Chuva extrema como de São Carlos (SP) cada vez mais frequente

Temporal de 140 mm em uma hora inundou município do estado de São Paulo


As cenas nas ruas do município paulista de São Carlos na tarde da quinta-feira (26) lembraram as dos tsunamis do Índico (2004) e do Japão (2011) com a correnteza arrastando tudo pela frente e carregando carros, eletrodomésticos e tudo que havia no caminho da torrente. 

Um balanço divulgado apontou que o Corpo de Bombeiros resgatou mais de 150 vítimas que estavam ilhadas em veículos e estabelecimentos comerciais. A corporação utilizou cinco viaturas e embarcações. Defesa Civil, Polícia Militar, Guarda Municipal e Departamento de Trânsito também trabalham nas ocorrências relacionadas a enchente.

O que atingiu São Carlos foi uma tempestade isolada típica de verão. Estes temporais não raro produzem volumes excepcionais de chuva em curto período em setores localizados, gerando alagamentos e inundações repentinas. Choveu 140 mm em pouco mais de uma hora. 

Estudo publicado meses atrás aponta que estes eventos extremos de chuva devem se tornar mais frequentes em São Paulo. O volume total de chuvas que caem sobre a região metropolitana paulista também vem aumentando gradualmente nos últimos 80 anos: da faixa de 1.000 a 1.500 mm/ano nas décadas de 1940 e 1950 para 1.500 a 2.000 mm/ano, nos últimos 20 anos. O mais preocupante é como essas chuvas se distribuem no tempo e no espaço ao longo de cada mês.

Se chove um pouco todo dia, tudo bem. Era o que acontecia antigamente, quando São Paulo ainda fazia jus ao apelido de “terra da garoa” — por causa da tradicional chuvinha que caía nos fins de tarde. O problema maior é quando a chuva desaba concentrada, em grandes volumes, na forma de tempestades.

Em vez de 200 milímetros distribuídos em várias parcelas ao longo de 30 dias, por exemplo, agora chove 100 milímetros num dia, 80 milímetros em outro, e 20 milímetros no restante do mês — resultando num cenário de poucos dias com muita chuva, intercalados por muitos dias com pouca ou nenhuma chuva.

É aí que mora o perigo, pois é nesses dias de muita chuva que acontecem as enchentes e os deslizamentos que matam pessoas, desabrigam famílias e destroem a infraestrutura da cidade.

Vários estudos realizados nos últimos anos vêm apontando para um aumento de precipitação sobre grandes centros urbanos do Sudeste brasileiro — incluindo São Paulo, Campinas, Santos e Rio de Janeiro —, assim como um aumento do número de dias secos consecutivos, “sugerindo que os eventos de chuva intensa estão concentrados em menos dias, com períodos mais longos de tempo seco entre eles”, escrevem os pesquisadores. 

O novo estudo foi uma iniciativa do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), coordenado pelo meteorologista José Marengo, com apoio do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Inmet e IAG-USP. (Com informações do Jornal da USP)